terça-feira, 1 de julho de 2014

O PENTECOSTALISMO E AS IGREJAS TRADICIONAIS

O Misticismo sempre insurgiu e ganhou força em determinadas épocas da história da Igreja onde o declínio moral e a frieza do amor cristão denunciavam um tradicionalismo estático e uma ortodoxia ineficiente representada por pregadores que apesar de ter todas as ferramentas necessárias para a saúde espiritual da igreja, cometiam o pecado de não aplicar tais fundamentos essenciais aos aspectos práticos da Igreja. Muito se fala nesses últimos dias da contribuição do pentecostalismo para as igrejas reformadas e tradicionais, mas pouco se atenta para o fato de que marcos antigos tiveram que ser removidos, muitos princípios reformados e essencialmente bíblicos têm sido negligenciados pelos que advogam o pentecostalismo como aliado da fé reformada, depois de um longo período de duras críticas e repúdio quase que unânime dos reformados às práticas pentecostais, agora denominações históricas passam a aceitar em seu meio ou reconhecer em seus documentos e credos como legítimas as práticas tipicamente pentecostais, será que essa “contribuição” terá efeitos positivos à longo prazo ou estão as Igrejas reformadas fadadas a pagar alto preço por ceder ao apelo e as tendências do evangelicalismo moderno, que se faz ouvir na voz de muitos de nossos membros que não se sentem plenamente alimentados em suas igrejas e procuram alternativas para satisfazer a necessidade emocional latente do ser humano? Nesse novo culto de tendência claramente pentecostal, em meio à experiência mística, o discurso entusiasta, e o apelo à emoção; é apresentada uma nova perspectiva do Deus Trino, onde o papel do Espírito Santo está sempre em destaque, Cristo e sua cruz são educadamente colocados “de lado”, o calvário, a obra vicária e a justificação, já não ocupam um papel importante na pregação da Escrituras, pois ser simplesmente salvo graciosamente já não tem tanto valor, a chamada segunda benção ou batismo com o Espírito Santo toma posição de destaque nos repetitivos apelos dominicais para o despertar necessário e urgente da igreja, incentivasse exaustivamente a experiência pessoal de cada crente com a obra do Espírito Santo que batiza mesmo aqueles que são já salvos e têm o selo do Espírito, especificamente nas manifestações sobrenaturais dos dons extraordinários concedidos à igreja primitiva como línguas, revelações e profecias e curas, que passam a ter também um papel central na vida do cristão e da igreja, o Espírito Santo neste movimento já não é aquele que dá testemunho do Filho, e o próprios dons deste, passam a ser um fim em si mesmos. O Deus Soberano finalmente se curva diante da criatura e se submete à este que com suas reivindicações e negociatas chamadas de campanhas, colocam o Todo-Poderoso contra a parede, o homem e suas necessidades regem o “menu espiritual” na agenda da igreja, onde a cada dia é requerido de Deus fazer tal e tal tipo de milagre, as bênçãos divinas são o motivo maior das grandes concentrações de fé, onde há poucos que estão preocupados em servir ao doador das bênçãos, e muitos interessados em se servirem ao máximo dos privilégios oferecidos por Este.

Trazendo as experiências para junto da sola-scriptura e dessa forma negando-a, manifestações contemporâneas como profecias, visões sonhos e novas revelações são o ápice de um evangelho novo, que procura um fundamento também novo, substitui-se as tradições católicas romanas, por novíssimas revelações, atualizadas e “melhores” por definição. Passam aos poucos a reger, inconscientemente, ou não, a fé e prática da igreja, as Escrituras Sagradas aos poucos também vão deixando o seu posto de Verdade de Deus para ceder lugar a “verdade” dos homens, abrindo as portas da igreja para o relativismo e subjetivismo.

Quando se trata da doutrina da salvação esse movimento é por excelência conturbador, arminiano por natureza traz como cerne central de sua crença o antropocentrismo que se manifesta nas preocupações humanísticas da valorização do homem, do censo de democracia e liberdade e o pano de fundo do seu discurso legalista e entusiasta é o próprio desprezo ao que é legitimamente instituído, à história da igreja e à própria ortodoxia cristã com todas sua tradição. A crença da Igreja em um só batismo revela o caráter da salvação soberana, aquele que não tem o Espírito de Cristo a ele não pertence, somos recebidos em Cristo por seus méritos próprios, e assim batizados todos em um mesmo Espírito, a ideia bastante difundida de que devemos buscar o batismo com o Espírito Santo rouba da graça seu monopólio da salvação, e acrescentá-lhe conceito estranho não evangélico, a busca pelo batismo com o Espírito que é dado soberanamente aos eleitos nada mais é que negação da graça da salvação como dom gratuito de Deus.

Tudo começa com o pressuposto de que é vital e necessário ao cristão, pelos menos aos que querem ter uma vida de plena comunhão e experiência pessoal com o Espírito Santo que vai além da simples conversão, que ele seja agraciado com uma segunda benção que erroneamente chamam de Batismo com o Espírito Santo, estes reivindicam para si o título de cristãos pentecostais, em uma atitude no mínimo descabida e sectária, rebaixam assim todos os outros cristãos ao nível ou a classe de meros convertidos que não contam com o revestimento necessário para o desempenho de sua missão como legítimos seguidores de Cristo. Não seria esta uma grande demonstração de prepotência incentivada por essa corrente, que ousa afirmar em alto e bom som, que somente a partir de seu surgimento, o Cristianismo passou a contar com o auxílio e plenitude do Espírito Santo?

Toda Igreja é Pentecostal, pois foi no pentecostes que de uma vez por todas o Espírito foi dado a Igreja, assim como de uma vez por todas Cristo morreu e ressuscitou dos mortos, são cumprimentos proféticos que devem ser cridos e proclamados como fundamentos postos para a Igreja e que não necessitam de outras repetições contemporâneas, o pentecostes deve ser tão real para o cristão quanto a morte e a ressurreição de Cristo o são, não como promessa pela qual se deva esperar, mas como eventos do plano da redenção cumpridos e registrados nas Escrituras Sagradas, fonte de revelação suficiente para a fé e vida dos eleitos. Outra arma mortal desse movimento que tem assolado as igrejas reformadas é o apelo ao irracionalismo, é bem comum ouvir críticas severas aos pregadores bem preparados, que são até tratados com desdém, usam de má exegese quando afirmam que a letra mata, se referindo aos esforços teológicos e estudos sistemáticos da Palavra de Deus, e assim revelam sua falsa espiritualidade, é pior que má exegese é um argumento que chega mesmo a dar arrepios. Mas como contestar alguém que alega ter uma linha direta com Deus? Como contestar alguém que não se intimida ao dizer que até os esboços de suas pregações recebe diretamente de Deus, muitas vezes entre um cochilo e outro?

É bem verdade que os cristãos primitivos tinham uma grande convicção da presença do Senhor através do Espírito Santo, porém isso não se dava porque estavam buscando ter uma nova experiência de batismo com o Espírito Santo como uma segunda benção separada e distinta da conversão operada em seus corações, exatamente por causa dessa obra, que é única na vida do eleito, ter sido algo soberano e verdadeiro e que levava primeiramente à convicção de pecado, eles se colocavam na dependência de Deus para sua permanência na graça divina, esse sim é o verdadeiro sinal do novo nascimento: convicção de pecado e dependência de Deus. Hoje infelizmente por causa dos exageros desse movimento místico descaradamente aprovado em nosso meio por lideranças que por vezes até estão envolvidas no mesmo erro ou quando não, fazem vista grossa pra tudo isso, muitos são levados a outro extremo, por medo de serem confundidos já não se permitem gozar a presença de Deus de forma mais intensa, com medo de está se emocionando demais, orando demais ou se consagrando demais, isso só contribui para a causa mística-pentecostal, contemplamos e nos maravilhamos na história da igreja e principalmente na vida dos puritanos, exemplo de homens que foram grandes e fiéis expositores da Palavra de Deus e também de homens que não temeram ser cheios do Espírito Santo, é do extremismo que se alimenta o discurso legalista pentecostal, pois infelizmente é reagindo a ortodoxia morta que muitos preferem o misticismo vivo.

Ao mesmo tempo em que as práticas e crenças pentecostais ganham defensores nas igrejas históricas, há uma reação dentro do próprio pentecostalismo contra aquilo que agora chamam de exageros, já denominado também de “pentecostalismo popular” com suas aberrações excêntricas e culminando no famigerado neo-pentecostalismo, muito daquilo que alguns membros de igrejas tradicionais anelam por vê presente em suas denominações, há muito já está sendo descartado por pentecostais tradicionais, alguns desses agora até já simpatizam com igrejas historicamente cessacionistas, e outros até mudam de igreja por esse motivo, um desses fui eu, isso é um forte indício de que esse namoro no meio reformado durará pouco tempo, só resta saber o tamanho do estrago que ele terá causado quando a desilusão chegar, tanto aos que aderiram ao movimento quando aos que no rigor do zelo acabaram negando sua própria espiritualidade, caberá então um resgate da identidade espiritual dessas denominações? Só o tempo dirá.

Fonte: www.presbiterianoscalvinistas.blogspot.com.br

segunda-feira, 3 de março de 2014

O EVANGELHO DA PROSPERIDADE

Vivemos atualmente o evangelho da prosperidade e poderia ser esta uma revelação genuína da parte de Deus. Poderia ser se o termo prosperidade fosse considerado genericamente, abrangendo todos os aspectos da vida, inclusive a espiritual: uma vida próspera seria cheia de valores e bênçãos espirituais. Seria se a prosperidade fosse um meio e não um fim: um meio para alcançar vidas para o reino; para sustentar missionários; para ajudar os mais necessitados. Seria se a prosperidade não fosse apenas ter casas, carros e muito dinheiro para aplicar na bolsa.

Nosso Deus é verdadeiramente provedor e capaz de abençoar todas as pessoas da terra individualmente. Bastaria apenas uma palavra sua para que a prosperidade invadisse todos os recantos do planeta. Cada uma das mais de seis bilhões de almas do planeta seria imediatamente abençoada pela sua palavra. Os campos floresceriam, não haveria mais fome e todos viveriam dentro da tão propagada justiça social. Imagine a África brotando comida por todos os lados. Pense nos desertos transformados em vales verdejantes cheios de vida e de abundância. Isso é perfeitamente possível para aquele que deu vida ao Universo.

Ocorre que Deus tem princípios e valores que impedem que as coisas aconteçam desta forma. O livro do profeta Joel trata da prosperidade e nos mostra algumas facetas destes princípios. Veja alguns versos do capítulo 2: “23 Alegrai-vos, pois, filhos de Sião, e regozijai-vos no Senhor vosso Deus; porque ele vos dá em justa medida a chuva temporã, e faz descer abundante chuva, a temporã e a serôdia, como dantes. 24 E as eiras se encherão de trigo, e os lagares trasbordarão de mosto e de azeite. 25 Assim vos restituirei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto peregrino, o devastador, o devorador e o cortador, o meu grande exército que enviei contra vós. 26 Comereis abundantemente e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor vosso Deus, que procedeu para convosco maravilhosamente; e o meu povo nunca será envergonhado.”

Deus estava dando uma resposta ao seu povo, demonstrando que a prosperidade seria restituída: “25 Assim vos restituirei os anos que foram consumidos”. Mais adiante o Senhor declarou que mostraria “30... prodígios no céu e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça.” Ele desejava que seu povo soubesse que “27... que eu estou no meio de Israel, e que eu sou o Senhor vosso Deus, e que não há outro; e o meu povo nunca mais será envergonhado.”

A restituição que o profeta se refere ocorreu porque o Senhor “18... teve zelo da sua terra, e se compadeceu do seu povo. 19 E o Senhor respondeu ao seu povo: Eis que vos envio o trigo, o vinho e o azeite, e deles sereis fartos; e vos não entregarei mais ao opróbrio entre as nações;”.

E a promessa do Senhor decorreu do arrependimento do povo. Nos versos 12 a 17, o profeta convocou o povo a se arrepender diante do seu Deus: “12 Todavia ainda agora diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. 13 E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal. 14 Quem sabe se não se voltará e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, em oferta de cereais e libação para o Senhor vosso Deus? 15 Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia solene; 16 congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os meninos, e as crianças de peito; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu tálamo.”

Hoje, a prosperidade tem sido vendida como um bem e não como um valor: uma demonstração de que o Senhor é nosso Deus e está conosco. O profeta mostra a prosperidade com um resultado de verdadeiro encontro com Deus. Muitos querem as eiras cheias e os lagares transbordando, mas se esquecem que é necessário rasgar o coração e se voltar para Deus. Muitos desejam a justa medida, querem que Deus faça descer abundante chuva, a temporã e a serôdia, porém vivem uma vida descomprometida com a sua vontade. Muitos miram o trigo, o vinho e o azeite, para deles serem fartos, mas não se lembram de jejum, choro e pranto.

Prosperidade, em Joel, é então um ato de misericórdia de Deus, em decorrência do arrependimento do povo. Não uma confissão relâmpago de pecados, como ocorre muito nas nossas orações. Mas uma atitude de profunda reflexão a respeito das mazelas que afligiam aquele povo. Uma mudança radical de rumo ao encontro do Senhor. Horas de ponderação no mais íntimo e de demonstração real de arrependimento. Desde o menor até o maior. Desde os servos até os sacerdotes: “17 Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para que as nações façam escárnio dele. Por que diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?”

A prosperidade é um meio de as outras pessoas verem o Senhor na vida dos seus servos. Em Joel, a prosperidade de bens foi conseqüência de uma prosperidade espiritual precedente. Na verdade aquela só tem sentido se esta existir: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?” Marcos 8:36. O Senhor quer abençoar o seu povo, ele deseja abundar a nossa vida de bens, entretanto, mais do que isso, deseja que sejamos seu povo e que ele seja nosso Deus.